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Do paredão ao camarote: o funk muda de público e perde a favela
Com forte presença nos eventos privados, o funk se torna mais uma vítima do processo histórico de esvaziamento que acomete as culturas periféricas

Por: Cibele Fiuza

Entre as vielas da periferia, os bailes se instalam com adegas improvisadas e paredões iluminados por caixas de som potentes, que disputam espaço com carros também equipados para tocar música. Esses ambientes se transformam em um espaço de socialização e de afirmação cultural, em contraste com as festas realizadas em salões fechados, onde predominam os palcos, mesas de DJs, cobrança de ingressos e bebidas caras.

O funk, um gênero musical originalmente periférico, está em crescente ascensão e ocupa cada vez mais espaço nos bairros nobres da capital de São Paulo. Porém, cada vez menos corpos periféricos estão presentes nesses locais.

Bruno Ruiz/DJ Miyagi Beats | Marcela Muniz

Bruno Ruiz, 37, DJ e morador de Heliópolis, a maior favela de São Paulo, reflete que o funk representa, para a periferia, uma forma legítima de expressão e lazer: “Hoje o jovem da favela, principalmente através do funk, começou a ter um olhar que ele também pode”. Ele destaca que o gênero ganhou força especialmente por proporcionar à juventude periférica a oportunidade de ser ouvida e falar de seus desejos, vivências e conquistas: “O baile, quando acontece na quebrada, é positivo porque, além da música, gera empreendedorismo, uma receita financeira pras pessoas”, afirma. No entanto, fora da favela, a dinâmica muda. O olhar raso e simples sobre o funk nesses espaços contrasta a imagem do funk para a periferia, que o vê como um elemento mais complexo e profundo, que está presente em sua cultura e pode ser até um estilo de vida.

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